Artigo - A DOR MAIOR, PELOS DANOS IRREPARÁVEIS

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Rústicas e singelas, sim: porém eram aprazíveis e encantadoras na exuberância das encostas do manancial. Esta é a concepção formada há anos por cada um dos moradores e proprietários despejados de lotes na beira do madeirão, com relação às suas moradias tragadas de sopetão pelas águas do rio invasor. Num contraste escabroso com as coisas lindas da mãe natureza, perambulam estes seus filhos, as aproximadamente 10 mil famílias ribeirinhas, desabrigadas que foram de suas moradias, segundo cálculos modestos da rádio povão. A esmo se estima que nas sinuosas curvas deste estuário no trajeto de quase 100 km de extensão em linhas retas, que vão de Porto Velho ao Distrito estremo de Calama, estejam hoje estes famigerados sem teto, segundo a defesa civil são mais de 20 mil fiéis. Em síntese sem recursos e sem seu bem maior que são as propriedades agrárias. Pois como dizem a maioria dos afetados, que não há dinheiro que pague o seu verdadeiro habitat, que eram suas residências imponentes senzalas. Evidente que não estamos expondo aqui o valor venal destas moradias, até porque muitas são vistas como casebres de madeira ou de palhas, outras palafitas, buscando serem preservadas dos bichos ferozes e das hecatombes das grandes cheias. Mas preferencialmente ressaltamos o conjunto funcional na formação de um lar aconchegante, de valor inestimável, prá sermos mais claro, não é da obra física que queremos relatar, de vez que sempre afirmamos que um simples domicílio residencial possa se construir até num só dia. Enquanto que uma moradia sustentável, tranqüila, pujante e saudável, em especial na roça, zona rural, como queiram, se leva anos a fio. As plantas frutíferas, pomares: Dos cajueiros, das bananeiras, cupuaçuzeiros, cacauzeiros, açaís, cocos e pupunhas, não lembrando muitas outras, das flores, dos jardins. Mas também fazem parte os vira latas caseiros, que dão os primeiros grunidos de aconchego aos visitantes, gatos e cachorros de caça de um faro sem igual. Ademais, aves e animais domésticos inseparáveis, o cavalo celado, o galo cantador de meia noite, do peru gerente imponente dos quintais e terreiros, o porco fuçador de minhocas e também a vaca leiteira. A barragem, especificamente para o criame do pescado quando não um lago ou poço aberto ao sol, igarapés onde são comuns as pescarias de traíras e carás, tilápias e até de piranhas, nos finais de verão. E o macaco prego em dobradinha com os agrupados salguins, que buscam banana e restos de comidas caseiras, no cotidiano dos sitiantes. A cantoria na alvorada matinal da passarinhada: rouxinóis, sanhaçus pardais, bem te vis e tantos outros, sem esquecer do solitário e resoluto papagaio. Como se não bastasse ainda, todo o aparato móvel e imóvel em derredor, de apoio e sustentação. A exemplo: casa de farinha, currais, chiqueiros, galinheiros, também o maquinário agrícola, arados, semeadeiras e colhedeiras, canoa de pesca e equipamentos de destocamentos emergentes, a pipa, o burrifador e o motor rabeta, ficamos assim por aqui que a lista é enorme. Mas não podemos esquecer as árvores gigantes e frondosas que se formaram á décadas em torno dos domicílios garantindo a umidade necessária, assegurando a água potável permanente, e o frescor do clima ventilado, com ajuda da correnteza do rio. E a Igreja? O devocional de sábado e domingo, a familiaridade dos vizinhos, o aconchego dos netos e bisnetos, também moradores nas circunvizinhanças, rebuscando os valores sentimentais, complementando a vida sossegada na fazenda.
(Dona Maria). conheceu a fundo a vida penosa dos ribeirinhos, ora atormentados pelas grandes cheias, outrora pelas doenças e enfermidades endêmicas, como malária, sarampo e catapora, porém nos mais de (30) anos em que morou em São Carlos, nada pode ser comparado à esta enchente danosa, onde até a Igreja foi tomada pelas águas do rio. Hoje com 87 anos de idade, Dona Maria reside no Bairro Caladinho em Porto Velho,RO. Aí meu Deus! Como assim vaticina sempre minha estimada sogrinha Maria Paulino, migrada que foi do Distrito de São Carlos, hoje desaparecendo emergentemente do mapa, em tom de sentimento, lamenta, o desespero dos seus ex-vizinhos. Só o Senhor nesta causa. Diz ela. Tudo isto tem um preço muito caro! Só quem sofre na pele um desmoronamento deste naipe poderá aquilatar o peso dos danos financeiros, econômicos, sociais e morais. A pergunta mais recorrente é a de quem vai pagar esta conta? Mais outras indagações são consequentes e eminentes na boca dos atingidos, por vias, de quem é a culpa. O quanto está sendo verdadeiramente o prejuízo? Quem são estes atingidos e desabrigados aflitos. Onde estão eles hoje e onde vão estar amanhã. E as rebordoses, do pós-enchente: doenças endêmicas, viroses e cóleras, ataque de animais peçonhentos. As respostas e soluções convincentes, são ínfimas e inconseqüentes. Todos nós sabemos que a instituição do estado foi criada desde os primórdios com o fim precípuo de resguardar os direitos de lei, estabelecer segurança, dar apoio irrestrito e assegurar a cidadania de seu povo. E aí Dr. Confúcio? E aí Dr. Mauro? Em boa hora, cadê os repasses pomposos das usinas. Desembuchem! O bagulho é sério, portanto poderá comprometer incisivamente suas cabeças. Nossas escusas ao leitor, novamente pela extensão do texto que já nos parece mais um discurso político, do que uma opinião pessoal formada. Mas prá finalizar, só queremos nos deter ao questionamento na origem e efeito desta catástrofe; assim o que nos parecia desde o ano em que povoamos esta Capital em 1981, é que o Rio Madeira era um estuário rio de águas brandas, com suas transbordações e repiquetes normais em datas pré-marcadas e tão somente conseqüentes do degelo e invernadas das cabeceiras. Aliás tão sereno como as águas do oceano pacífico. De repente nos defrontamos com um rio caudaloso de águas agitadas e turbulentas, onde as velocidades de sua correnteza atingem quilometragens horárias surpreendentes, a ponto de provocar ondas e banzeiros enormes no seu pico maior, beirando os 20 metros acima da meta, será que este fenômeno é normal, senhores? E depois desta catástrofe como vai ficar nosso subsolo, falo das margens produtoras dos grãos e mantimento deste mesmo povo. O medo maior dos ribeirinhos é que o rio Madeira nunca mais seja o mesmo, a camada de terras pretas de um lado e outro, férteis, em potássio e limo fertilizante, muito apropriada ao plantio de lavouras brancas e do cultivo de horte-frute-granjeiro, como vão ficar após esta lavagem danosa. Será que os cinco anos de pesquisas antes realizadas pelas empresas responsáveis pelas usinas, não previram estas funestas conseqüências? Sabe-se porém que temos daqui até Manaus as ribeiras de rios amazonidas, como a de maior população por quilometro quadrado e por conseguinte o maior número de vilarejos e povoados, que na grande maioria estão sendo tragados por esta fenomenal cheia do Madeira Mamoré. Portanto o momento exige reflexão mais bem mais execução e desempenho concreto, chega de discursos vazios e propalações fúteis, com a palavra final a Tia Dilma do PT, que infelizmente se defronta ao mesmo tempo, com outros problemas de ordem administrativa, tipo Petrobrás, copa do mundo e por fim outros mais, sem falar da volta da inflação galopante e consequente queda nas pesquisas de opinião. Até mais. O Autor é Jornalista e Diretor do Instituto Phoenix.

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